quarta-feira, 12 de maio de 2010

Cariocas

A SOMA DOS GESTOS
(A ação positiva)


Não preciso dizer que nossa cidade é bela, é só olhar. Nossa cidade nos abençoa todos os dias com as suas maravilhas naturais e projetadas; mesmo nos tempos chuvosos, cinzentos, a Cidade do Rio de Janeiro é linda.
O Rio é uma grande cidade e seus problemas são conseqüentemente grandes também. A violência, a poluição, a frágil estrutura da rede pública de atendimento em saúde, enfim, problemas inerentes às cidades grandes.
Na esfera da administração pública e na ordem de ação política, como cariocas devemos estar atentos para a atuação dos vereadores e dos prefeitos, não só reclamando dos problemas, mas verificando se a atuação dos políticos que nós elegemos representa o que eu e você consideramos como conduta positiva na busca de amenizar os problemas que mancham nossa cidade; neste caso nossa arma é o voto dado e o não dado.
Tenhamos uma coisa na cabeça, todos nós temos responsabilidade nos cuidados com esta cidade que nos presenteia diariamente com tamanha beleza. Os habitantes das cidades são a alma que está por trás da aparência.
Assim sendo, tem maior responsabilidade de cuidar do Rio os políticos nas esferas federal, estadual e municipal, os moradores, quem trabalha na cidade, quem visita a cidade, quem passa pela cidade.
Tenhamos todos nós uma ação positiva e mesmo que aparentemente individual, não será. Sigamos um tratado, sei lá, criemos hábitos positivos, mudemos valores se preciso; acho que na verdade é só cada um colocar em pratica muita coisa que se sabe. Façamos um tratado simples.
- TRATADO SIMPLES –

Políticos – por favor, tenham vergonha na cara, tomem atitude mais positiva em relação à saúde pública, um povo doente, sem o devido atendimento, é vergonhoso; como é vergonhosa também, a falta de ação legislativa e administrativa – no que concerne ao problema gravíssimo da poluição. O "Cartão de Visitas do Brasil" não pode ter suas praias e lagoas tão poluídas como tem o Rio. Vista do Alto da Boa Vista as lagoas da Barra da Tijuca são belíssimas, mas de perto... No Recreio dos Bandeirantes a lagoa que banha o parque Chico Mendes, lar de vários animais, inclusive dos jacarés-de-papo-amarelo, já perdeu quase todo espelho d’água para as jigogas – plantas aquáticas que se proliferam magnificamente em ambiente poluído; e a Lagoa Rodrigo de Freitas, linda, onde morrem imensos cardumes e definha o resquício da vegetação ciliar. A Baía de Guanabara, não sei nem mais se os botos acompanham as barcas que navegam para a Ilha de Paquetá, fedida, putrefata, abandonada.
Cito alguns exemplos para dizer que os políticos, obedecendo ao nosso tratado, devem priorizar a segurança, saúde e o meio-ambiente, porque, a saúde é evidente, e o meio-ambiente deve ser priorizado pelo simples fato da nossa cidade ser bela naturalmente. Mesmo os políticos que representam interesses financeiros de lucro fácil, pretensões imobiliárias mal-intencionadas – lembrem-se sempre que somos nós que os colocamos lá e por isto, somos responsáveis também pelas omissões que eles cometem -, enfim, os políticos que não têm nenhuma preocupação com a poluição na cidade, devem seguir este tratado e deixar imediatamente a idiotice de lado para raciocinar que poluição não resulta em benefício para ninguém - sob a égide do capitalismo: de que adianta exaurir os recursos com uma exploração depredadora, se com um pouco mais de investimento, pode-se ampliar a capacidade de obtenção de lucro.
Quem Passa pela Cidade – Tem gente que passa pela ponte-aérea, tem gente que faz baldeação nos terminais rodoviários, tem marinheiro que olha a cidade de lá como se a cidade estivesse a navegar, tem caminhoneiro que carrega e descarrega, tem gente que passa de carro.
Estes também devem cumprir sua parte no tratado, Por mais indiferentes, ou ocupados que sejam, duvido se resistem a uma olhadela de paquera com a cidade. A cidade também é de vocês, por isto, façam a manutenção de seus veículos para não descarregarem muito dióxido de carbono nos ares da Cidade Maravilhosa, não voem pelos ares da cidade caluniando-a dizendo que ela é só bonita do alto, não atirem papeizinhos pelas janelas dos ônibus.
Quem Trabalha na Cidade – As pessoas que trabalham na cidade praticamente passam mais tempo de vida aqui do que onde moram, devem cumprir o tratado, portanto. Praticamente todas as responsabilidades que cabem aos moradores cabem a vocês.
Quem Visita a Cidade – Turistas de todos os lugares, se vocês não sabem, agora tem um tratado a ser cumprido. É evidente que a cidade é de vocês, os melhores lugares, as melhores comidas, o samba, as praias, o corcovado, o carnaval. "Mas nós ter teabém riesponsabiliadadees?", é, neste tratado turista também tem coisas a cumprir, como não? Por favor, não se embriaguem e façam coisas que normalmente não fariam, não briguem, não andem pelados por aí, sejam gentis com os empregados dos hotéis, garçons, taxistas e jamais, jamais usem o dinheiro de vocês para a exploração sexual infantil.
Os moradores – Nós temos muita responsabilidade no cumprimento do tratado, nós moramos aqui e qualquer ato positivo que tenhamos em relação aos problemas da cidade se transforma em melhorias para nosso lar; assim sendo, sejamos cariocas praticantes, troquemos a cara feia por um sorriso, sejamos gentis com todos, cedamos os nossos lugares a quem precisa mais, troquemos os xingamentos por uma brincadeira, respeitemos os sinais vermelhos, tenhamos mais paciência com tudo.
É de suma importância um preceito para os moradores e para quem trabalha na cidade: jamais se joga lixo nas ruas, sob hipótese alguma; há sempre uma lixeira por perto, se não houver guarde o lixo até encontrar uma. Tem gente que pega aqueles anúncios normalmente desinteressantes dos entregadores de papeizinhos, nem lê e joga no chão após dois passos; pô, não pega, se pegar joga na lixeira. Chão não é pra jogar lixo. Guimba de cigarro, anúncios, resto de alimento, copos plásticos, papeis de doce, não podem ser encontrados no chão da cidade. Catem o cocô de seus animais, não despejem lixo nos rios, não desmatem e acima de tudo, eduquem seus filhos para que eles cresçam achando natural todas as ações positivas.
Um dia desses, um domingo lindo, tirei o dia para ficar na praia até tarde, quando a maioria das pessoas foi embora após desfrutar da democrática areia e do mar calmo, fiquei impressionado com o que vi; o lixo deixado na areia era tanto que parecia ter havido uma batalha que deixara milhares de destroços. Fiquei envergonhado e muito triste com a incapacidade de quem deixou o lixo na areia de refletir que ao saírem cuspiram no prato que comeram e que voltariam a comer. A natureza os recebeu terna, pura, proporcionando um dia feliz no mais democrático dos lazeres que é o banho de mar, que é de graça, onde pobre e rico se encontram semi-nus, quase iguais; iguais na imbecilidade do ato nojento de deixar na areia que desfrutaram toda a sujeira que produziram, além, claro, de deixarem enterrada qualquer possibilidade de que os acompanhasse de volta ao lar algum farelo de dignidade. Seria tão absurdo pensar em levar uma sacola para colocar o lixo e jogá-lo nas lixeiras que existem nos calçadões das praias?
Quando era criança descia da favela da Rocinha para coletar mariscos grudados nas rochas na praia, faziam cócegas na planta dos pés milhares de tatuís que serviam como isca de peixe e para uma boa farofa; a primeira vez que comi ostras foi quando cruzávamos a nado o Canal da Barra para pegar a iguaria nas pedras do outro lado. Hoje não tem mais mariscos, não vejo os tatuís e mesmo se houvesse, não me atreveria a comer nenhuma ostra do Canal da Barra.
Acho que não podemos deixar de sonhar com a volta dos tatuís, com os peixes saltando na Lagoa Rodrigo de Freitas, com os jacarés-de-papo-amarelo tomando sol às margens das lagoas da Barra da Tijuca, com a pescaria na Baia da Guanabara.
Se cada um de nós cumprir nossa parte no tratado, se cada um tiver uma ação positiva quanto aos problemas que enfeiam nossa linda cidade, não seria absurdo imaginar que a soma de cada gesto poderia influir, inclusive, na diminuição da violência que nos assola.
Sejamos cada dia melhores como pessoas, como cidadãos, para que nossos filhos e as gerações vindouras tenham orgulho do lar que deixamos.
Sigamos o que preconizava o profeta Gentileza pelas ruas da cidade: "GENTILEZA GERA GENTILEZA AMORRR A NATUREZZA".

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